Vei xa algún tempo que vin nel Facebook d'úa amiga un artículo mui curioso del diario portugués Público, firmado por Pedro Mexia y titulado «Teoria geral do ex-amigo». Por distintas razóis este artículo, que xa nel sou día me parecéu mui interesante, hoi téñolo máis presente que nunca, y penso que, a falta del qu'eu poda dicir sobre os ex-amigos, as palabras de Pedro Mexia son sin duda máis interesantes qu'as mías.
Chócame, con todo, el apreciación que fai sobre Podhoretz al considerar que romper úa amistá por discordancias políticas é daqué atípico. Entre toda a xente que, d'ún xeito ou outro participa en política, creo que nun conozo a naide que nun perdera ún ou varios amigos por discordancias ou por praxis políticas confrontadas. En colquer caso, coincido con Mexia condo dice qu'el que realmente nun soportan as amistades son as traicióis, os enganos y as ausencias.
A amizade é uma esperiência mais frequente que o amor, mas todos os dias ouvimos histórias sobre ex-maridos e ex-namoradas, ao passo que pouca gente fala dos ex-amigos. E ao nosso lado há amizades que acabam, como uma implosião de um edifício em ruínas, estrépito abafado e uma grande nuvem de pó. Disso fica apenas um grande silêncio.
As pessoas não gostam de reconhecer que a amizade é um laço frágil. A mitologia diz que os amigos são indestrutíveis e eternos. Há por isso um grau de decepção no fim de uma amizada que cobre de vergonha os envolvidos. Uma paixão amorosa está umbilicalmente ligada a dimensões mais superficiais e passageiras, como o aspecto físico ou o desejo sexual. Quando o amor acaba a tragédia é minimizada porque já sabíamos que "o amor acaba". O fim de uma amizade é uma surpresa mais chocante. Quando uma amizade acaba temos que reconhecer, contrariados, que a amizade, como o amor, é uma eternidade fraudulenta.
Norman Podhoretz escreveu uma curiosa biografia chamada Ex-Friends (2000), em que explica como se zangou com todos os seus amigos do meio intelectual americano. No caso de Podhoretz, as amizadas terminaran por discordâncias políticas. Creio que é um motivo atípico. A amizade suporta bem opiniões divergentes. Eis o que uma amizada não aguenta: deslealtades, traições, aunsências, crueldades, competições, impiedades. Já passei por algumas rupturas violentas, e sei que as amizades acaba porque pomos em causa o carácter do amigo (e ele o nosso). Reparem que não me refiro a amizades que se desvanecem, à intensidade que dismunui, as pessoas coas que vamos perdendo contacto aos poucos, sem premiditação, só porque mudaram os nossos hábitos ou as nossas circunstâncias. De tempos a tempos, todos temos amigos dos que já não somos amigos. Mas isso é muito diferente de um ex-amigo.
Um ex-amigo é alguém a quem um dia entregamos as chaves todas que tínhamos. Teve acceso total às nossas ideias e emoções. Um ex-amigo foi sempre um amigo íntimo. É isso o que explica o decoro antiquado com que evitamos o assunto. O ex-amigo representa um juízo ético errado. É uma mancha humana. Um momento em que nos enganamos completamente sobre a humanidade, ou sobre um humano en concreto. É fácil dicermos "eu achava que estaba apaixoado" e garantimos que confundimos o amor com uns olhos azuis. Mas com um amigo, que é um peixe de águas profundas, não temos essa desculpa. Quem é que diz "eu achava que era amigo de ele"? O fim de uma paixão revela um erro comum. O fim de uma amizade é um erro pessoal, sem direito a perguntas.
O ex-amigo nunca nos é indiferente. Uma das minhas regras sagradas é que nunca digo mal de um ex-amigo. Isso é tanto mais estranho quanto sou capaz de dizer mal de um amigo, em casos graves. Mas um ex-amigo é como uma investigação policial inconclusiva. É um caso arquivado por desitência e que pesa na consciência. Se eu criticasse um ex-amigo é como se ele ainda fose meu amigo. E isso seria uma sensação incómoda. Ao mesmo tempo, o ex-amigo não é esactamente un inimigo. É um fantasma, uma assombração de que nos lembramos sempre, como lembramos as mulheres que amamos. O amigo entrou na Cidade Proibida e agora não nos perdoamos que ele tenha visto os leões e os archeiros. Quando nos arrepentimos de uma intimidade sexual, deitamos as culpas para a locura temporária que é o desejo. Más nunca perdoamos o entusiasmo lúcido com que fizemos um amigo e despois o perdemos. Não estamos sequer arrepentidos: estamos tristes com uma tristeza mais suportavel e mais duraroura que a tristeza amorosa.
Quando nos cruzamos com un ex-amigo e não nos cumprimentamos, pesa no coração o logro que é a fraternidade. Sem a qual a igualdade e a liberdade afinal não valen nada.
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